por Nathalia Larsen
Imersa em minha
mais nova condição materna, encontro tempo para poucas coisas, escassa
mobilidade e zero transito. Aproveito para ler sobre o que mais gosto de
refletir: museus, arte e arquitetura.
Reflito agora sobre Museu Virtual. Tento entender se há de fato tamanha
possibilidade de expansão, seria possível vivenciar a experiência de uma obra
de arte, por exemplo uma instalação ou performance, sem estar presente? Oras
uma experiência virtual nada tem haver com uma experiência presencial. Quando
estamos de frente a uma obra de arte todos os sentidos afloram, a mente tende a
viajar para caminhos as vezes nunca explorados e certamente saímos com a
sensação de pertencimento. Me lembro quando vi pela primeira vez “Os Girassóis”
de Van Gogh, mesmo se tratando de uma obra imagética, extremamente repetida
pelos livros de História da Arte e outras mídias, quando estive frente a frente
com ele, chorei. Chorei por que me senti de certa forma ingênua, como acreditei
que a conhecia. Quando a vi pessoalmente foi como se meus olhos houvessem me
enganado. Eram muitas pinceladas, havia densidade no traço e muita mais muita
tinta a óleo davam a sensação de que a pintura quisera saltar da tela. Quanto
tempo para secar cada momento realizado, me deu uma sensação de tempo que
jamais antes havia refletido.
Consciente de que
as artes plásticas exigem mais do observador, que apenas a visão. Passo a
refletir sobre performance. Acompanho a exposição INFLAMÁVEL, solo de Ana Luisa
Santos. Por sorte Ana está relatando sua experiência em um blog que eu
ansiosamente aguardo ser alimentado após sua vivencia. E como fica essa de
viver uma performance através de um relato e algumas fotografias? A sensação é
estranha, de uma lado o prazer de acompanhar bons trabalhos sendo realizados do
qual não tenho acesso presencial no momento, além da possibilidade de ler seu
relato e receber informação. Ao mesmo tempo fico intrigada com toda a
informação que não recebo, as entrelinhas que só um pode ver, o observar dos
outros que observam, que sempre me fascinou, as dúvidas quanto a materialização
do relato e o desejo infame dos sentidos, falta cheiro, faltam conversas
paralelas, faltam sons evasivos que completam ou incomodam, enfim falta pele
para tornar aquilo seu. Sua experiência.
Com isso, sigo
pensando no tal Museu Virtual e amplio o museu para além das obras de arte,
para além de seu acervo e chego a outra função que ele deve exercer além de
conservar e expor suas obras, é fomentar a pesquisa e a crítica. É trazer a
experiência estética para outros campos do conhecimento, é pensar e repensar e
sempre que possível mais uma vez. Nesse momento passo a ser menos relutante ao
Museu Virtual, sua possibilidade de existência já é algo admirável. Se, podemos
alimentar a internet com as funções articuladoras do Museu o esforço já vale a
pena. E a partir daí entendo que se posso participar de uma exposição, mesmo
que através de um ponto de vista que não é o meu, e essa pequena participação
me permite articular formas de pensar e trocar com outros interessados essa
experiência, me parece que a virtualidade passa a trabalhar a favor de nossa
sociedade. Ela passa a encurtar a distância, a disseminar articulações e
estimular participações.
Esta é a
experiência que vivo atualmente com a exposição INFLAMÁVEL. Tenho acompanhado
as performances que estão acontecendo semanalmente pelo BLOG organizado pela
artista no intuito de disseminar a experiência aos que por alguma razão não
podem comparecer presencialmente. Algumas performances já vi ao vivo e por essa
razão consigo visualizar seu efeito no espaço da galeria, assim como visualizo
os transeuntes observando e se surpreendendo, é o caso de Dobras. Performance,
onde os movimentos do corpo de Ana envolvido por papel definem uma escultura em
movimento. Ora delicada ora angustiante, a ação começa com uma experiência
suave e com o desdobrar do tempo passa a gerar conflito, ruído, angustia para
finalizar em um alivio contido.
Outras
performances relatadas, como a Não vendo......, o relato não me satisfez for
completo. Desejo estar presente. Vejo as fotos, viajo nas possibilidades, amplio
minhas percepções e não...quero mais. Recebo as informações compartilhadas, ao
mesmo tempo sei que estou perdendo muitas impressões. Sinto falta das
expressões da artista, me faltam às expressões dos observadores, eu quero olhar
de perto. Quero olhar as escolhas das roupas e rir dos resultados sem que isso
pareça uma produção de moda de uma revista alternativa.
Um Museu comigo
agora, é gostoso de ler. Além do que se trata de uma ação, podemos dizer,
intimista, individual. A artista atua apenas para o corajoso que ansiou dar-lhe
tempo e com essa graça um breve relato de um dos protagonistas nos bastam para
entender a ação. Uma experiência simples e humana, da qual se pode especular
infinidades no entendimento da cultura e do comportamento humano. Sorrio
sozinha, pois também já visitei um museu com Ana.
Sigo lendo o
BLOG, vendo as fotos de Trepadeiras de
Plástico, uma experiência estética, uma experiência erótica. Provocação.
Artificialidade. Imagem versus imagem. Se trata de mais uma experiência
satisfatória através dos relatos e fotografia. Acredito que isso se dá, porque
a própria intenção do trabalho trata o poder da imagem em nossa sociedade e
quando vemos as imagens da experiência que nada mais é que a sintetização da imagem
que representa mais uma vez a imagem, chegamos a uma espiral satisfatória e
conclusiva.
Com isso chego a
conclusão que, quando um observador realmente deseja experimentar uma ação,
melhor estar presente nada substituirá as sensações possíveis com o estar.
Porém, a ação pode ser sim disseminada e seus desdobramentos podem e devem
ocupar mais que o espaço da ação, devem ocupar o espaço e tempo da critica. A
sensação que tenho com essa experiência de vivência/observação é que daqui à
alguns anos não lembrarei se estive na Mostra ou se foi tudo um puro devaneio
bom.