Durante a exposição INFLAMÁVEL, optei por
trabalhar com outra utilização do espaço da Galeria do BDMG Cultural. Além da
tela que mostra os registros em fotografia e vídeo de sete trabalhos que estão
sendo exibidos diariamente na galeria e da instalação de seis imagens da
foto-performance INFLAMÁVEL, os visitantes encontram o espaço livre, ocupado
com o material e rastros da ação que aconteceu anteriormente na programação de
11 ações performáticas realizadas durante a exposição. Esse novo uso, com a
liberação dos painéis que geralmente são utilizados em outras exposições na
Galeria do BDMG Cultural, proporcionou uma outra percepção do espaço, um
atravessamento que permite sua ampliação devido à criação de lugar para a
realização das performances, favorecida pela arquitetura do edifício, com sua
parede de vidro no fundo e as características espelhadas de seu piso.
No domingo, 1º de fevereiro, realizei a
performance PÉGASUS na Galeria do BDMG Cultural e, além da ação, outro elemento
preencheu o espaço criando um tipo de forma para a percepção: o silêncio. Esse
ambiente permite que outros sons sejam percebidos e componham a trilha sonora
do trabalho. Na performance, estabeleço um jogo erótico com uma sela de cavalo,
transformando o material em extensão do corpo. As ações funcionam como um jogo
de semelhantes e diferenças entre as relações humanas e as relações animais,
entre submissão e prazer, entre objeto e sujeito, entre corpo e cavalo.
Montar uma exposição de performances é um desafio
em vários sentidos. Desde a criação de uma relação com o espaço, com suas
características físicas e relacionais, passando pela construção dos espaços de
ação, para cada performance, até o desdobramento do trabalho no espaço, durante
seu acontecimento. Montar o texto do blog, montar as fotos para publicação.
Montar o esquema de produção para a próxima ação na galeria…
No teatro, costuma-se dizer que “o texto
(dramaturgia) será montado”. No caso de PÉGASUS, corpo e material são montados,
para a construção do texto da ação performática. A sela prevê dois corpos: um
corpo que monta e outro que é montado. Que corpo é montado na performance? E,
ao mesmo tempo, como desmontá-lo durante a ação?
Uma das
figuras mais emblemáticas da mitologia grega é Pégasus, o cavalo alado. Poseidon
(Netuno para os romanos), deus do mar, era apaixonado por Medusa, um monstro
com cabelos de serpente e que tinha o poder de transformar as pessoas em
pedras. No entanto, o deus nunca tinha conseguido tocá-la. Quando o herói
Perseu derrotou Medusa cortando-lhe a cabeça, uma gota do sangue dela caiu em
contato com a água, provocando um enorme estrondo. Surgiu, então, uma espuma
branca sobre a água e um belo cavalo de pelagem branca e com asas emergiu.
Após
seu nascimento, Pégasus bateu com seus cascos no chão do monte Hélicon, fazendo
brotar nesse local a fonte de Hipocrene, que se tornou famosa como um símbolo
de inspiração para a poesia. Quem bebesse das águas sagradas da fonte, viraria
um poeta. A partir disso, muitos homens tentaram capturar o cavalo para
domesticá-lo, mas ninguém conseguiu.
Sempre adorei cavalos. Quando eu era muito criança, um cavalo disparou comigo e eu caí. Minha sorte: fui amortecida por uma planta chamada “unha de gato”, uma moita de espinhos. Não tive uma fratura sequer. Apenas fiquei um bom tempo em cima da mesa de jantar para que minha mãe e amigos retirassem uma centena de espinhos do meu corpo pequeno.
Ao final da performance, recebi de presente um
poema de Diógenes Aquino que testemunhou a ação na galeria e que compartilho
aqui, como forma de agradecimento:
Pégaso...
a sensualidade
nasce do belo...
nunca vi
uma mulher com sela
é eroticamente lindo...
Pégaso é ela
asas da imaginação...
quero ser Perseu
cavalgando no nu
eternamente belo...
a Pandora chama ardente...
os seios montes
néctar... lácteo...
Mais sobre Diógenes Aquino:
FOTOGRAFIA por Fernanda Branco Polse