Nesta quarta-feira, dia 21 de janeiro, cheguei à Praça da Liberdade sob um sol forte das 15h. Muitas pessoas, apesar do calor, faziam caminhadas, outras vendiam livros religiosos. Alguns ainda concediam entrevistas para programas de televisão locais. A maioria, no entanto, passeava ou ocupava os bancos da praça, à procura de uma sombra. A Praça da Liberdade é um dos principais cartões postais de Belo Horizonte e, apesar dessa vocação turística direta, é realmente um lugar agradável, com jardins de outros tempos, em que a referência era mais europeia que tropical. Recentemente, o local passou por grande reforma e os edifícios do seu entorno receberam novas funções: antes eram espaços de trabalho de secretarias públicas do governo do estado de Minas Gerais. Hoje tornaram-se centros culturais, com temas específicos e duvidosos (para alguns estudiosos e políticos, pela forma como foram concebidos). Mas, apesar das avaliações e críticas, justificadas ou não para cada espaço, o fato é que os edifícios ganharam outra possibilidade de ocupação, pautada por manifestações artísticas e históricas, que dependem, demandam e recebem também um novo público, formado não só pelos funcionários públicos (que nomeavam o bairro Funcionários, da capital mineira), mas agora pelas pessoas em geral, interessadas em conhecer exposições, teatro, dança, performance, poesia, palestras e outras atividades de cunho cultural.
UM MUSEU COMIGO AGORA é uma performance com formato de intervenção urbana que questiona o uso dos espaços públicos dedicados às ações artísticas. O convite para conhecer um museu – que pode ser entendido como um espaço cultural, mas também como um corpo, uma visita, um encontro – revela-se muito interessante como medida de pesquisa sobre os hábitos culturais do público transeunte da cidade relacionados com os edifícios construídos ou ocupados para tal finalidade. O trabalho surgiu de uma inquietação minha sobre a necessidade, enquanto artista, de colaborar para a formação de público para a área cultural, no que diz respeito ao acesso das pessoas de forma em geral aos espaços e eventos artísticos. É intrigante para mim como percebo que o público em Belo Horizonte é ainda tímido para determinados projetos – exposições artísticas, peças de teatro, dança, performance – com exceção de iniciativas específicas durante determinado período do ano. É com se uma turma de escola visitasse uma exposição de arte durante uma temporada ou campanha, mas no restante do mês ou do ano, aqueles mesmos estudantes não voltassem para outras visitas por eles mesmos ou com a família. E comecei a pensar que tipo de ação poderia realizar para contribuir para esse debate que envolve tantas variáveis como educação, transporte público, acessibilidade e divulgação massiva. Penso que se as atividades artísticas recebessem visibilidade tal qual os eventos esportivos recebem em determinados veículos de comunicação, como a televisão, talvez a atitude das pessoas diante dos espaços culturais seria mais próxima, mais dedicada. É realmente uma grande mudança cultural, literalmente, de valor, de comportamento, de compreensão do quanto uma ação artística compartilhada pode contribuir para a formação da sensibilidade de uma pessoa e para sua nutrição humana.
Diante desse dilema histórico, decidi me colocar à disposição, literalmente, em uma provocação de encontro e convívio para a experiência compartilhada de fruição estética, social e afetiva. UM MUSEU COMIGO AGORA é sempre uma surpresa. Nesta quarta-feira, dia 21/01, encontrei uma estudante, Nayara Paz, que me relatou que iria comigo a museu naquele momento porque, apesar de usufruir constantemente do espaço da Praça da Liberdade, nunca havia entrado em um dos espaços de seu Circuito Cultural. O encontro com a jovem estudante do Colégio Estadual Central de Belo Horizonte foi interessante também porque sua aproximação foi de uma convicção inédita. Em outras situações em que realizei a performance, muitas pessoas se aproximavam e perguntavam sobre a disponibilidade do “serviço”, mas que não poderiam ir naquele momento pois tinham outro compromisso ou trabalho. Para Nayara parecia que era realmente uma oportunidade e ela aproveitou.
Ela me contou, durante nossa visita ao Centro Cultural Banco do Brasil que faz aulas de teatro e já fez aula de dança. Tem curiosidade sobre as atividades dos espaços culturais, mas não sabe muito bem dizer porquê não faz mais visitas com frequência. Ela me disse também que sempre quis visitar os edifícios da Praça da Liberdade, mas que a turma que a acompanha nos passeios da Praça nunca quis ir junto. Durante a visita, conversamos sobre teatro, dança (da qual ela disse gostar, especialmente) e sobre programações atuais, como a do Verão Arte Contemporânea, que está em cartaz em vários espaços de Belo Horizonte.
Foi um ótimo encontro e sinto que, cada vez mais, UM MUSEU COMIGO AGORA é uma possibilidade de questionar o que gera uma motivação para as pessoas irem visitar um centro cultural. Será companhia, estímulo, confiança ou tudo isso junto? Acho muito interessante também essa confusão entre a performance como intervenção urbana e o “serviço” que as pessoas interpretam na ação. Talvez pelo formato, pelo banner que cria um body door, talvez pela disponibilidade que instruo em meu comportamento durante a ação. Talvez performar seja isso também, estar disponível para o outro, em vários sentidos. E o sentido de a presença ali, naquele trajeto, passeio, estar aberto para observar, com olhos frescos de quem nunca entrou em um lugar ou de quem se surpreende com uma manifestação artística, deixando a sensibilidade aflorar, é sempre muito bom de compartilhar.
Nesta sexta-feira, dia 23/01, realizo a performance DOBRAS na Galeria de Arte do BDMG às 15h e convido a todos para conhecer as esculturas que se desdobram da ação e do corpo.
FOTOGRAFIA por Fernanda Branco Polse