F5 ou porque performance dá dor de cabeça


Dia 14 de janeiro de 2015. Após um ano da inscrição e aprovação no edital de Mostras da Galeria do BDMG Cultural, realizo a abertura da exposição INFLAMÁVEL, minha primeira individual. A linguagem é nova também para a instituição e o trabalho de curadoria foi intenso, não só com relação ao amplo panorama de trabalhos – porque decido apresentar 18 performances, entre 11 ações e 07 registros – mas também pela produção geral. Desde a negociação e adequação do material gráfico de divulgação da exposição, mais coerente sobre a informação de uma programação das ações performáticas com várias datas. Até a adaptação do espaço, equipamentos e das diversas camadas de expectativa de encontro – que, diferentemente de outras mostras, tem expectativa de público não somente no coquetel de abertura.




Para a vernissage de ontem, 14 de janeiro, decidi apresentar um trabalho inédito, F5, por considerar bastante interessante a relação do trabalho com o contexto da noite de abertura, utilizando a tipologia do evento como site especific para a ação. Tenho muito interesse por como a performance funciona nas situações sociais de convívio – público ou privado – e percebo como as relações podem ser exploradas no sentido de sua própria visibilidade. A vernissage, por exemplo, é um lugar de encontro e também de comemoração – no caso de muitas exposições, é a conclusão de um trabalho (desde a produção das obras, até a curadoria e montagem na galeria). 

No caso de uma exposição de performances, como é INFLAMÁVEL, o trabalho está apenas começando – e por isso o sentido de congratulação compartilhado pelos amigos é também MERDA! como se diz no teatro. E acredito que a expectativa do público – além da expectativa da instituição e da própria artista – é de um acontecimento – social, quem sabe artístico.


Explorando esse lugar de encontro e de códigos sociais, F5 cumpriu sua função de atualização das motivações da vernissage. Apresentou uma artista muito elegante, muito simpática, sinceramente grata pelo carinho dos amigos e parceiros, para o evento de abertura de exposição com coquetel em uma galeria em que era apresentado o registro em fotografia e vídeo de 07 trabalhos performáticos e uma programação com 11 ações para acontecer. 

Apesar da informação sobre a performance na vernissage indicada no material gráfico, público e artista não sabiam exatamente o momento em que a ação teria início. E isso sempre é muito interessante, porque torna os movimentos sociais na relação com o espaço um pouco mais nítidos: todos já se observam muito neste tipo de evento, mas a expectativa da performance é sempre uma lente de aumento para o comportamento. Será que está acontecendo alguma coisa ou a artista está apenas conversando com seus convidados? Seria a ação esse momento mesmo de encontro de atualização social?







Neste contexto, hoje é bastante comum o uso de máquinas fotográficas, inclusive as acopladas aos aparelhos celulares, para o registro da imagem social e da auto-imagem (selfie). Pois foi nesse momento, em que decidi iniciar a ação, pois os corpos de dois amigos – Cássia Macieira e Ed Marte – compunham comigo no centro do espaço da galeria uma janela para a ação em que eu retirei de minha bolsa um frasco de 100 ml de Chanel n⁰ 5 e comecei a borrifar continuamente o perfume no meu corpo. A repetição da ação até a finalização do material provocou uma saturação deste que é um aroma histórico: o primeiro a se tornar uma marca, pois foi criado com esse objetivo. 

Apesar do objetivo determinado da ação – usar todo o perfume de uma vez só – a quantidade durou bastante e tive tempo, durante a performance, de percorrer a galeria, andar entre as pessoas que testemunhavam a ação e sentir uma grande ardência no pescoço, onde concentrei a aplicação do perfume. Deixei o coquetel e a galeria perfumados após esgotar o frasco, pensando em como o sentido do olfato é instintivo e direto. E nesse sentido, bem propício para a percepção da linguagem performática: um tipo de memória estranhamente boa de algo quase ou nada cotidiano, mas que me faz pensar em como definimos nossos corpos também pelo cheiro – natural ou industrializado.








E nesta sexta-feira, dia 16/01, acontece CRISÁLIDA na Galeria do BDMG Cultural a partir das 15h. CRISÁLIDA é um trabalho sobre a gestação continua do corpo, entre incubações e rompimentos necessários, em que o propósito de ritualizar uma nova possibilidade de vida, outros tipos de nascimentos, tão poéticos quanto necessários ao longo da vida, da semana, da exposição, podem acontecer. 

FOTOGRAFIA por Ana Eisbäer