Do desconforto da performance


ZONA DE CONFORTO, performance coletiva realizada nesta quarta-feira, dia 28 de janeiro, resultou na ocupação da escadaria de entrada da Galeria do BDMG Cultural dentro da programação INFLAMÁVEL. Foi uma reunião de forças, literalmente, com a participação afetiva e efetiva dos artistas Bernardo RB, Cristina Borges, Dorothé Depeauw, Ed Marte, Ludmilla Ramalho, Marcelo Kraiser e Marcos Hill para compor o trabalho comigo. Munidos de nossos corpos e de travesseiros de viagem, propomos uma jornada de tempo dilatado logo na entrada da galeria, compondo com a arquitetura da escadaria que dá para a avenida Bernardo Guimarães uma progressão de ações de questionamento sobre o conforto.

A performance, muitas vezes, é bastante desconfortável para quem vê, mais ainda para quem a realiza. Esse incômodo de quem testemunha a performance pode ser causado por um estranhamento, incompreensão ou até constrangimento diante da ação que está sendo proposta. O corpo, quando está em primeiro plano, gera uma possibilidade de identificação de sensações, imagens e desejos que pode atravessar quem está presenciando a performance e isso pode ser uma experiência intensa, que alguns tentam evitar no sentido de refletir e sentir no corpo como e porque estamos vivos.

Para o performer, há muitas vezes essa necessidade de submissão: ele se submete a uma ação, a um estado, a uma imagem ou em favor da construção de uma imagem. Essa possibilidade de acontecimento da performance, que confere ao corpo o caráter de obra em ação, é também uma via de estados corporais diversos, que podem gerar uma energia de expansão, que é compartilhada com as pessoas que estão presentes no espaço. Há uma superação também, uma sobrevivência, uma morte, uma transformação. É preciso rever o corpo, suas condutas, seus trejeitos, desconstruir sua leitura e, para isso, o performer coloca-se em situações limites, de resistência ou experimentação, que trazem, para a superfície, o caráter sensorial da existência humana.

Em ZONA DE CONFORTO, provocamos a expansão de INFLAMÁVEL para além da Galeria do BDMG Cultural, derramando corpos e exposição pela escadaria abaixo. O trabalho traz um questionamento sobre os significados contemporâneos do conforto, esse bem que pode ser básico e desejável, mas que hoje é uma super mercadoria, embutida em vários produtos: pessoas podem gastar muito e mudar muito em torno do que elas imaginam que será confortável. Mas essa ideia de conforto, muitas vezes, paralisa, deforma e isola o corpo da convivência, da experiência da presença e da alteridade.

Nesta quarta-feira, na escadaria, oito artistas experimentaram a instalação de seus corpos no espaço público propondo um outro tipo de atitude confortável. Permanecendo em posturas desconfortáveis, de cabeça para baixo, entre os degraus, na suspensão do corrimão ou em torções da coluna vertebral, os corpos se apresentaram desmontados, mas com certa serenidade que sugeria descanso, relaxamento. Esse é o tipo de inversão que a performance realiza – no corpo e na ação – para chamar atenção sobre os aspectos subjetivos e diversos do conforto e de outras emoções humanas, para além do que o mercado impõe. Um tipo de estranhamento diante de corpos retorcidos que, no entanto, permanecem tranquilos, mas que podem provocar no outro um tipo de reflexão sobre seu estado fixo e sempre definido, sem revisão.















































FOTOGRAFIA por Fernanda Branco Polse